Fragmentos de Estilos Relacionados

Se por um lado, como tenho argumentado, o leque de estilos da cena gótica tinha um considerável grau de consistência, por outro, uma parte dos elementos refletia sobreposições com a música ou a moda de outras cenas.

Assim, além de selecionar mais itens unicamente "góticos", os participantes envolvidos na sua bricolagem estilística subcultural frequentemente tendiam a selecionar um ou dois itens de roupas ou acessórios associados com cenas ou subculturas relacionadas. Nós já citamos a importância de elementos do punk e do fetiche como influência devido as formas pelas quais os itens descritos se encaixam nas duas primeiras seções estilísticas. Este "tema" final consiste em uma miscelânea maior de itens compartilhados entre góticos e outros grupos. Muito notável aqui era a popularidade entre góticos de certos itens associados a um leque, às vezes vasto, de gêneros conhecidos como "cultura alternativa". Will Straw explica que nos anos 80, "alternativa" funcionava como um termo "guarda chuva" para uma mistura de estilos considerados não mainstream:

"A capacidade desta cultura de satisfazer as formações de gosto mais específicas é acompanhada pela percepção que nenhum exercício estilístico em particular deva ser apresentada como emblemático de um movimento de vanguarda coletivo sobre parte deste terreno como um todo..."

Ao lado de punks, fãs de indie, crusties e outros, durante os anos 80 e também no começo dos anos 90, os góticos frequentemente consideraram seus agrupamentos como uma das formações de gosto específicas sob este guarda chuva. Enquanto o uso deste termo e a associação física de góticos com fãs de punk, indie-rock e crusties era bem mais incomum na época de minha pesquisa, música e artefatos selecionados relacionados a eles tinham sido mantidos pela cena gótica. O mais perceptível era o entusiasmo de alguns por tinturas de cabelo coloridas e fluorescentes, apliques de cabelo, vários tipos de piercings corporais e roupas de combate, que eram compartilhadas com outros agrupamentos "alternativos". 

O apreço por certas bandas ou músicas associadas com as cenas indie, punk ou crusty era também bastante comum entre góticos. Importante notar que tanto na aparência quanto nos gostos musicais, apenas certos elementos "externos" eram visíveis, e estes tendiam a ter lugar ao lado de gostos mais distintivamente subculturais.

Houve também sobreposições mais gerais com a cultura rock, e muitos góticos vestiam camisetas das suas bandas favoritas as quais, contendo bandas e design notavelmente subculturais, se pareciam com aquelas vestidas pelos fãs de rock de várias tendências estilísticas. Além disso, um número crescente de góticos vestia camisetas que pela sua forma e estilo geral se parecia com as de bandas de rock, mas cujo texto consistia de referências auto conscientes e bem humoradas ao envolvimento em si do indivíduo na cena. Exemplos dos slogans nestas camisetas, que eram usualmente produzidas e vendidas por entusiastas transformados em empreendedores, incluíam: "Velho Gótico Triste", "Puta Gótica" e até "Spice-Gótica". Enquanto tais super afirmações de auto consciência subcultural não fossem parte da cena gótica inicial, sua consistência com ela é clara, assim como é sua especificidade. Simplesmente, quem senão um gótico, vestiria uma camiseta destas? (...)

Devido a certos cruzamentos estilísticos pelo final dos anos 90, existiu uma crescente, embora não unânime, aceitação na cena gótica de limitados exemplos de música associado ao metal extremo ou death metal. Embora de longe mais agressivo, masculino e de bases de guitarra "thrash" no geral, estes gêneros por eles mesmos tomaram alguns elementos do gótico - particularmente o prestígio das roupas e cabelos pretos e o uso de maquiagem de horror. Em razão disso e das consequentes descrições pela mídia destas músicas e estilos, elementos destes sons e imagens mais pesados influenciaram os gostos musicais e de visual de alguns góticos. 

Importante notar que, todavia, outros abertamente excluíram qualquer coisa que considerassem como "metal" de suas coleções musicais e aparências, e explicitamente fazem objeções a tais influências em outros.

Paralelamente a estes estilos "alternativos" e rock, o critério de status da cena gótica favorecia certos exemplos de outros estilos de música e moda. Nós já mencionamos a importância da influência de certas roupas e acessórios associados com a cena fetichista.

Somado a isso, as origens da cena gótica, e a localização das vidas iniciais de muitos participantes durante os anos 80, induziu uma apreciação nostálgica pela dança e audição de algumas músicas pop new-romantic daquele período, o que também combinou com a feminilidade do estilo gótico em geral. A nostalgia pelo new-romantic também encorajou uma tendência a vestir camisas com babados, jaquetas militares de vários tipos, fraques clássicos e outros itens associados a bandas como Adam and The Ants. Como um entrevistado disse:

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— Basta pintar Adam Ant de preto e ele se torna gótico, não é!

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Finalmente, uma gradual incorporação de aspectos específicos das modas dance-club na aparência gótica estava acontecendo durante minha pesquisa, especialmente na forma de tops, vestidos e calças apresentando desenhos brilhantes ou sensíveis a raios ultravioleta, cabelos tingidos e maquiagem fluorescente. Aqueles que adotaram estas influências mais entusiasticamente foram às vezes conhecidos como "cyber-góticos".

Crucialmente, os elementos selecionados do que chamei de estilos "relacionados" que se tornaram aceitáveis para os góticos, não refletem nenhuma relação inerentemente homologica entre eles e os demais temas da subcultura. Similarmente, enquanto pode ser certamente possível delinear certas sobreposições e ligações, não estou tentando aqui sublinhar uma homologia "natural" ou inerente entre ou dentro dos dois temas essenciais da sombriedade e da feminilidade. Enquanto enfatizei a ligação entre as manifestações atuais e passadas desses temas para estabelecer a consistência ao longo do tempo, o leque total de estilos deveria ser visto como tendo sido ampliado através de uma mistura de coincidências, associações lógicas, inovações individuais e, mais importante, considerável construção e consolidação através de eventos, comércio e mídia (...).

Deve ser enfatizado de novo, consequentemente, que minha referência na coerência estilística se aplica até o ponto no qual, apesar de consistir de numerosos elementos agrupados de diferentes fontes e em diferentes estágios, existia um estilo gótico diferenciado bem discernível, o qual se manifestava consistentemente de um indivíduo para o outro, de um lugar para o outro e de um ano para o seguinte.

@HailJon